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artigo
Tintas – onde tudo começou
Por Samira Jarouche, arquiteta e urbanista
Uma curiosidade me instigou a
pesquisar onde, como e de que
forma o ser humano começou a
se comunicar, e que tipos de ma-
teriais disponíveis na natureza ele
utilizou para transmitir tais infor-
mações, ou, simplesmente, se ex-
pressar artisticamente.
Sabemos através de relatos da pré-
-história que as tintas e revestimen-
tos ocupam um lugar relevante na
história cultural da humanidade.
Notamos pelas pesquisas dos his-
toriadores que já existia, desde os
tempos pré-históricos, um grande apreço pelas cores e pelo aspecto decorati-
vo das tintas. Isso é comprovado nas pinturas das cavernas, feitas com tintas
à base de gordura animal e terras coradas ou pigmentos naturais, tais como
o carvão. Indo mais a fundo nessa pesquisa, encontrei um texto explicativo
que nos esclarecemelhor essa questão e vou compartilhar com vocês leitores:
Apesar de as tintas atuais seremprodutos comumgrau de sofisticaçãomuito
superior, o certo é que os constituintes de base continuam a ser o ligante e o
agente da cor, ou seja, os pigmentos, tais como no passado. As tintas usadas
nas pinturas das cavernas só poderiam ter sido aplicadas em interiores por
não serem resistentes a intempéries, e ainda hoje estão preservadas.
Cerca de 4000 anos a.C., os europeus começaram a usar as primeiras tintas
para construção civil: queimavam pedra calcária, misturavam-na com água
e aplicavam a cal resultante às suas casas de barro para as protegerem e
decorarem.
Na mesma altura, os povos do sudoeste asiático tinham já desenvolvido
a arte da fabricação de lacas, verdadeiros antecessores dos revestimentos
modernos, enquanto na
Índia, da secreção de um
inseto se extraía a goma-
-laca (shellac), usada na
preparação de um verniz
para proteger e embelezar
objetos e superfícies de
madeira.
Os chineses detinham o
conhecimento da fabri-
cação da laca preta da
resina da árvore Rhus
Vernicifera, usada para
ornamentar objetos, con-
siderados extremamente
valiosos, símbolos da
aristocracia na China e no
Japão, e mais tarde na Europa, onde essa arte foi introduzida pelos merca-
dores da Idade Média.
Só com a Revolução Industrial é que as tintas e revestimentos, de fato,
conquistaram o mundo. O rápido avanço tecnológico criou novos e vastos
mercados para as tintas e revestimentos. A invenção e o incrível sucesso do
automóvel constituiu o motor de desenvolvimento de novos revestimentos
e processos de aplicação – devido às novas formulações, as trinchas foram
substituídas pela pistola e os tempos de secagem encurtados, com a conse-
quente aceleração do processo de pintura.
Hoje, não seriam aceitáveis as tintas nitrocelulósicas para aplicação com
pistola usadas na pintura de automóveis nos anos 30. A indústria de tintas
investiu fortemente na pesquisa e desenvolvimento de produtos com menor
impacto no ambiente e na saúde humana. O teor de solventes das tintas foi
altamente reduzido. As tintas de base aquosa são muitas vezes usadas em
substituição das de base solvente e alguns produtos são mesmo isentos de
solvente, tais como as tintas em pó e as de cura UV.
Ao longo das décadas, as formulações das tintas tornaram-se cada vez
mais complexas e, hoje, os revestimentos não só protegem e embelezam
os substratos como também lhes conferem propriedades funcionais – an-
tiderrapantes, isoladoras, condutoras e refletoras, por exemplo.
As tintas e revestimentos desempenham um papel indispensável no mun-
do moderno e revestem virtualmente tudo o que usamos, desde eletro-
domésticos, edifícios, carros, barcos, aviões, computadores, microchips ou
circuitos impressos
As tintas contribuem para a durabilidade dos objetos, ajudando, dessa forma,
a economizar recursos naturais. Apresentam-se em todas as cores imaginá-
veis e embelezam as nossas vidas, tal como faziam há 30 mil anos atrás.
Fonte: “Added value sheets” –A short history of paints and coatings
www.samirajarouche.com.br