Revista Paint & Pintura - Edição 253

ARTIGO PAINT&PINTURA | Abril 2020 | 53 S e temalgo que está presente na vida de todos os brasileiros é a indústria química. Os insumos e matérias-primas produzidos nas fábricas deste setor que responde por 11,4% do PIB industrial nacional estão na base dos produtos de todos os demais setores industriais: do agro à mineração, passando por remédios, higiene pessoal, gases hospitalares, limpeza, ali- mentação, roupas, calçados, brinquedos, eletroeletrônicos... Isso significa dizer que todo brasileiro depende da indústria química. É um setor essencial. A importância da indústria química passa injustamente despercebida da opinião pública em tempos normais, mas fica evidenciada emuma situação de calamidade, como a que estamos vivendo diante da disseminação do Covid-19. Quando disparou no varejo a procura por álcool emgel, máscaras e sanitizantes, entre outros bens diretamente associados à situação de pandemia, os olhos se voltaram para as fábricas químicas. Alinhadas com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e as autoridades sanitárias do País, as indústrias adotaram nas últimas semanas protocolos rígidos de segurança para seus colaboradores e fornecedores, e estão em- penhadas ao máximo para não apenas manter a produção, como atender a uma demanda maior por alguns insumos específicos, sendo um bom exemplo o espessante para o álcool em gel. Diversas empresas rapidamente redirecionaram unidades fabris e formu- laram alternativas eficientes ao espessante comumente utilizado, que se tornou escasso em nível global. A indústria química brasileira tem plenas condições de produzir mais insumos para que o álcool em gel não falte aos brasileiros nesse momento tão importante. Pontualmente, uma grande preocupação do setor neste momento é o tráfego de insumos e matérias-primas entre os Estados e, também, entre os países do continente, notadamente a Argentina, com quem temos um forte relacionamento comercial. Motoristas e operadores logísticos são, hoje, os médicos e enfermeiros da produção que chegará às casas dos brasileiros no próximo mês. A logística envolve uma série de engrenagens como refinarias e biorrefina- rias, estradas, postos de fronteira, portos e portos secos, que devem estar em sincronia para que as produções dentro das indústrias químicas tenham um fluxo constante. Pelas características da produção química - uma fábri- ca assemelha-se a um laboratório em que reações controladas são feitas A INDÚSTRIA ESSENCIAL HOJE, AMANHÃ E DEPOIS Por Ciro M. Marino, engenheiro mecânico e presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) É NECESSÁRIO UM ESFORÇO PARA SUPERAR A CRISE, MAS SOLUÇÕES ESTRUTURANTES TERÃO DE VIR TÃO LOGO SEJA RETOMADO O FLUXO NORMAL DA VIDA NO PAÍS constantemente - parar uma linha de produção é uma operação extremamente delicada, entre outros fatores, porque ela não pode ser tão facilmente religada como se respondesse a um interruptor ou chave. Além das preocupações pontuais e do esfor- ço para superar essa grave crise, a indústria química também faz o exercício de olhar para frente, pensar no futuro, e buscar construir um ambiente de maior segurança e competi- tividade para o setor, com reflexos positivos em toda a cadeia produtiva e, por extensão, ao consumidor final. Soluções estruturantes terão de vir tão logo seja retomado o fluxo normal da vida no País. Uma prioridade é acelerar a implementação do Programa Novo Mercado de Gás, que traz a perspectiva de um fornecimento estável de matéria-prima a preços competitivos. Também é preciso olhar para os entraves burocráticos e regulatórios, a inserção internacional da nossa indústria, a infraestrutura e a questão da energia. Uma das muitas lições importantes que essa pandemia nos deixa é sobre a importância de produzirmos mais especialidades e menos commodities. É preciso abordar esse problema antes da próxima crise. Ciro M. Marino

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