Revista Paint & Pintura - Edição 258

ENTREVISTA PAINT&PINTURA | 7 depois temos um transformador final. Às vezes, para chegar num produto, da indústria química até a ponta, passa-se por aproximadamente 4 a 6 cadeias. E todas essas cadeias produtivas utiliza- ramomesmo expediente que acabei de comentar, ou seja, utilização do estoque de matérias-primas e produto acabado. Existe agora uma situação de curtíssimo prazo que é a necessidade de continu- armos atendendo o mercado final/con- sumidor e, aomesmo tempo, recompor os estoques da cadeia produtiva como um todo, ou seja, não existe indústria no mundo que não esteja passando por isso. Não é um fenômeno apenas brasileiro, isso acontece no México, Estados Unidos, China e em todos os lugares. Não existe a possibilidade da indústria, pontualmente em 30 ou 60 dias, conseguir reorganizar todas as cadeias produtivas e passar a entregar produto lá na ponta, de forma rápida e eficiente, no volume desejado. Isso necessita agora de um tempo para a reacomodação. Algumas linhas levarão 60 dias para isso, mas a maior parte das linhas levá 90 dias, ou seja, dentro deste ano, teremos a situação resolvida, com exceção de algumas linhas que levarão 120 dias para normalizar. E tambémnão adianta muito tentar buscar abasteci- mento no exterior, pois lá a situação bem parecida com essa. Resumindo, primeiro impacto a questão de crédito, a disponibilidade de capital de giro, todo consumo de estoques, seja de matérias-primas ou de produto acabado, todo esse pipeline de aten- dimento ao consumidor final vazio e, agora, estamos tentando num curto prazo de tempo recolocar esse pipeline para fluir. Vai demorar um pouco. Mas também temos a questão dos preços. Quando falamos de produtos químicos de forma geral, quanto mais próximos tivermos do início da cadeia, ou seja, primeira geração, e ligados aos setores de óleo e gás e outras matérias- -primas importadas, os custos flutuam exatamente com o câmbio e não pode- mos esquecer que, dependendo do dia que se faz a medição, tivemos esse ano uma maxidesvalorização, pois a partir do dia que se faz a medição até o dia que encerra, na média, essa maxides- valorização do Real em relação ao dólar foi da ordem de 35%, e se fizermos uma comparação com o Euro, deve ter dado quase 45%, porque além de tudo, o dó- lar se desvalorizou em relação ao Euro. Então, quando vamos buscar o supri- mento, já se tem um choque do câmbio à absorver. Muitas vezes, essas cadeias demoram para transladar toda essa variação cambial, mas se o câmbio per- sistir e ficar no patamar que se encontra hoje, seguramente, em determinado momento, vai bater lá no consumidor final. Logicamente, que quanto mais se caminha na terceira ou quarta geração será menor o impacto da questão cam- bial e maior o impacto das despesas em Reais. Neste caso, logicamente quanto mais próximo do consumidor, menor o impacto do dólar, ou seja, aqueles 35% não vãobater como 35% lá na ponta, mas seguramente vão gerar uma pressão inflacionária. Por outro lado, tivemos neste período uma queda de juros bastante importante e também acesso ao crédito facilitado pelo governo, uma série de medidas para as empresas. As grandes até que nem dependeram tan- to, porque muitas delas puderam ir ao mercado internacional buscar crédito. Mas a cadeia química acabou atuando nos primeiros meses de trabalho como praticamente um banco, pois acabou financiando para seus clientes, porque os bancos ainda estavam resistentes e não havia ainda crédito do BNDS ou de outros, e as demais ferramentas de crédito que foram criadas e até aquelas de postergação de consumo de capital de giro, como as questões das leis tra- balhistas ou encargos trabalhistas que foramdiferidos ao longo do tempo, isso tudo demorou umpouco para ser equa- cionado, mas por sorte, agora, a taxa de juros está num patamar bastante acessível para quem tem bom histórico de crédito. Como também aumentou o risco, o dinheiro está em maior oferta, isso baixa o custo do dinheiro, porém o risco aumentou e criou o efeito reverso, aumentandoumpouco. Dependendode onde estiver na captação, pode-se ter umbommomentopara o capital de giro. Assim, consegui cobrir as questões de volume e câmbio. Mas é sempre bom lembrar que, devido esse desequilíbrio na cadeia como um todo, além do impacto de câmbio, essa questão do suprimento meio interrompido causa alguma falta de produto aqui ou ali, resultando em aumento de preço. São regras de mercado, oferta e demanda, isso ainda segue presente no Brasil. As- sim, temos duplo impacto, como ficou claro naminha exposição. Oprimeiro é a questão de disponibilidade de fato, pois as cadeias ainda não estão totalmente preenchidas, e o segundo devido essa questão cambial. Acredito que essa seja a reposta mais ampla que expressa a realidade do setor, hoje. Atualmente, a indústria química ainda opera com ociosidade. Mesmo com essa demanda toda acelerada como está, segundo o último dado que tive de agosto, estamos operando com 78%

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