Revista Paint & Pintura - Edição 306

ARTIGO 56 | PAINT&PINTURA | JUNHO 2025 Washington Yamaga, da Rácz, Yamaga & Associates Francisco Rácz, da Rácz, Yamaga & Associates Por Francisco Rácz e Washington Yamaga, sócios- fundadores da Rácz, Yamaga & Associates A indústria de tintas ocupa um papel estratégico nas cadeias produtivas da construção civil, do setor automotivo, da indús- tria de bens de consumo e da infraestrutura. Na América do Sul, essa relevância contrasta com uma vulnerabilidade estru- tural crescente: a forte dependência de insumos importados. Estima-se quemais de 75% das matérias-primas utilizadas pelas fabricantes da região sejamprovenientes de fora do continen- te. No Brasil, cerca de 60% dessas importações têm origem na Ásia, seguidas pela Europa e pelos Estados Unidos. Diante de um cenário global cada vez mais instável, esta de- pendência se converte em risco sistêmico. A análise de seus impactos exige observar não apenas os efeitos imediatos de variações nos custos, mas também as consequências de uma eventual interrupção nas cadeias de suprimentos e as reações estratégicas necessárias para garantir a continuidade e o de- senvolvimento do setor. Devemos levar em consideração a curtíssimo prazo o impacto das recentes medidas diretamente no comercio internacional. O chamado tarifaço norte americano impacta a dinâmica da economia global. Se pode ter umbenefício emalguma redução de custo de alguns ingredientes, mas se deve levar em conta os custos de reformulação, custos de logística e de desserviço. Mas estrategicamente devemos levar em conta a estrutura da cadeia de suprimentos, como discorremos a seguir neste artigo. O impactomais sensível nomercado de tintas, será uma possível redução nas taxas de crescimento em 2025 e 2026. A DIMENSÃO DO PROBLEMA A lista de insumos críticos inclui pigmentos - com destaque para o dióxido de titânio -, resinas e monômeros acrílicos e alquídicos, solventes especiais e uma variedade de aditivos que conferem desempenho às formulações. A carência de alternativas emescala industrial torna a indústria sul-americana altamente suscetível a choques externos. Apesar do aparente benefício em alguns custos diretos a cur- tíssimo prazo, a ausência de uma cadeia produtiva regional consolidada para esses insumos cria um ciclo de vulnerabi- lidade: dependência de importações, exposição a variações cambiais e logísticas complexas, e poucamargemdemanobra em tempos de crise. PRESSÕES DE MERCADO: PREÇOS E CONSUMO Em cenários de aumento nos custos de importação - causados por flutuações cambiais, aumento do frete, barreiras comer- ciais ou instabilidade geopolítica - a primeira consequência direta recai sobre os custos de produção. Muitas empresas tentam repassar os aumentos ao consumidor, mas essa práti- ca encontra resistência, principalmente nos segmentos mais sensíveis, como o de tintas decorativas. Com margens comprimidas, fabricantes menores ou menos capitalizados enfrentam riscos consideráveis. A produção pode até ser mantida temporariamente com base em esto- ques existentes ou por meio de ajustes no portfólio, mas uma retração no consumo leva rapidamente ao aumento da capacidade ociosa. No setor da construção civil, esse cenário pode significar adiamento de obras de repintura ou substituição por produ- tos de menor valor agregado. Já em segmentos industriais e automotivos, a resposta tende a vir por meio da busca por processos mais eficientes, que reduzam o consumo de tinta por peça ou superfície. O CENÁRIO CRÍTICO: RUPTURA NO FORNECIMENTO GLOBAL Em uma situação de ruptura total ou seletiva nas cadeias globais de fornecimento, a produção de tintas pode ser inter- rompida em questão de dias ou semanas, uma vez esgotados os estoques. Nesse caso, o problema ultrapassa a lógica de preços: trata-se da ausência física de produtos-chave. A RECONFIGURAÇÃO GLOBAL E A INDÚSTRIA DE TINTAS NA AMÉRICA DO SUL

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