Revista Paint & Pintura - Edição 258

ENTREVISTA 10 | PAINT&PINTURA cendo, não só tambémquando falamos de pandemia, as pessoas estão revendo a sua forma de trabalho, nós aprende- mos muito com a questão do trabalho remoto, nem todo trabalho impõe a ne- cessidade de sua presença no escritório. Tenho visto também imóveis no interior valorizando de 30% a 40%, porque as pessoas já sabem que podem operar remotamente, com uma frequência menor de presença em escritórios. Isso tudo vai mudar a configuração desse mercado imobiliário também. Tenho visto um crescimento forte e só não cresce mais porque falta cimento, não tem suficiente, além disso, não tem aço para sustentar a necessidade da indús- tria brasileira. Isso não vai perdurar, só precisa de tempo para que tudo volte a operar normalmente. Todas essas cadeias que faço parte, como a Abiquim, e um grupo de empre- sas chamado Coalizão Indústrias, que detémde aproximadamente 45% do PIB industrial e que temreportado situações similares a que estamos discutindo aqui. Hoje, também falta um pouco de adesi- vos para calçados e eles já sabem que não há o que fazer, tem que esperar, as coisas vão se reorganizar. Mas voltando com os aprendizados e com tudo que já comentei sobre essa mudança do Ocidente para o Oriente, toda a infraestrutura, se tivermos re- forma estruturante e as questões de estabilidade jurídica, acredito que o Bra- sil tem tudo para atrair investimentos e crescer em todos os setores. Não será diferente para tintas, dei um exemplo agora da indústria automotiva e cons- trução civil. E logicamente, conforme se tem melhor qualidade de vida da população, melhores salários, menores níveis de desemprego, e aí já começa repintura imobiliária, que também é bastante importante. Acredito que se daqui duas décadas saltarmos da 6ª para a 4ª posição da indústria química mundial, o potencial para o Brasil neste setor de químicos e derivados será espe- tacular. Talvez eu seja otimista demais, mas também vivo no Brasil como todos vocês e acho que temos que acreditar. Mas eu cada vezmais e, principalmente, nos últimos 15 anos, tenho me empe- nhado muito porque nós dependemos da política, por isso, chamo a atenção para a importância das pessoas esco- lherem bons candidatos. É importante nos manifestarmos de forma política, procurar estudar o que está aconte- cendo, mas que a gente consiga buscar os melhores representantes, porque dependemos muito mais da política do que imaginamos. A retomada dos negócios indica recu- peração acima das expectativas para o segundo semestre. Qual a sua previsão para este e o próximo ano? Acredito que para este ano estoumuito otimista de ser melhor do que imaginá- vamos por volta de abril ou maio, mas muito melhor. Isso não acontecerá em todas as cadeias, mas para alguns setores será muito melhor que nós pro- jetávamos para o ano de 2020 normal. Talvez na média composta brasileira a gente ainda tenha um PIB negativo, mas seguramente não será de 9% ou 10% negativo, como grande parte imaginava num primeiro momento. Eu tenho uma previsão que será entre 3% ou 4%, mas os economistas estão falando algo em tor- no de 4% e 5% negativo até o final do ano. Mas eu tenho uma grande preocupação com relação a 2021, apesar de todo esse otimismo que estamos vivendo agora, com essa retomada, precisamos imaginar que para 2021 não poderemos contar com tanto apoio governamental, teremos um governo entrando em 2021 bastante endividado, normalmente dívida pública quando cresce, a taxa de juros também cresce, e aí também vamos precisar olhar como estará o ‘humor internacional’, pois temos a questão do câmbio. Numa situação de preocupação em relação ao risco do país, normalmente o câmbio se desva- loriza, porém eu acho que o câmbio no Brasil já se desvalorizou demais, então acredito que haja uma possibilidade de voltar um pouco o ano que vem. Assim, imaginamos que talvez a taxa de juros suba, o câmbio recue um pouco, mas nãohaverá tanto créditodisponível, como tivemos nesse segundo semestre. Ainda tem crédito entrando e esse mer- cado de crédito ainda será irrigado pelo menos até dezembro. Então, para 2021 vamos ter que esperar chegar mais per- to para ver como terminamos esse ano, ver como ficará o humor dos mercados internacionais e locais, para fazermos uma melhor previsão de 2021, mas será um ano de bastante cuidado. Mas sou muito otimista e espero que os brasilei- ros me acompanhem nesse otimismo, mas sem perder o ‘pé da realidade’.

RkJQdWJsaXNoZXIy MTY1MzM=