Revista Paint & Pintura - Edição 258

ENTREVISTA PAINT&PINTURA | 9 rio da Defesa quanto no Ministério da Economia, existe uma preocupação no Brasil, que precisa rever a sua estratégia de suprimentos. Uma vez que o Brasil faça um reposi- cionamento estratégico, tudo nos leva a crer que o mundo aprendeu muito comessa pandemia, principalmente que excesso de dependência de suprimento emuma única região pode colocar todas as cadeias em nível global sob risco. O Brasil, particularmente nos últimos 30 anos, onde tivemos uma grande desindustrialização, principalmente do setor químico, perdendo várias cadeias de produção, não só as matérias-primas básicas, como as cadeias umpoucomais adiante, inclusive de intermediários farmacêuticos, fala-se de bio-segurança, mas falamos de segurança de forma geral, não só agrícola, mas também de saúde pública. Chegamos a ter mais de 180 produtos intermediários farmacêu- ticos e, hoje, devemos ter uma dúzia. Foi praticamente desmontado e transferido para o Oriente, muita coisa foi para a China e, recentemente, para a Índia, tambémalguns países como o Camboja e Vietnã, que estão usufruindo do mo- mento e da posição estratégica regio- nal e alavancando os negócios, assim como também a Coréia, e países muito disciplinados. Imaginamos que o Brasil está tentando um acordo com a Coréia que já tem um plano escrito de 10 anos para recuperação do Covid-19, sendo que aqui no Brasil não temos um plano até dezembro. Se imaginarmos uma abertura total, como alguns pensam, não vamos conseguir sobreviver como indústria nacional. Nós não temos uma estrutura de custo, então a indústria precisa de um tempo para se adequar e poder competir de forma pelo menos assimétrica comos países que são pares do fornecimento mundial. Voltando ao risco que hoje é percebido pela maior parte das economias e tam- bém pelas indústrias privadas, muito provavelmente o mundo vai passar por uma modificação geográfica de produ- ção. Essa concentração do Ocidente, paulatinamente, na próxima década deve retornar pelomenos emuma parte relevante para o Oriente. Os Estados Unidos estão fazendo esse trabalho e a Europa está fazendo um trabalho parecido. Já o Brasil, como um país que tem área, petróleo, gás, lógico que no monopólio talvez não tenha em quan- tidades suficientes, mas se abrindo o projeto do gás e sendo implementando, vamos ter muito mais ofertas. Então, se temos matérias-primas, espaço e tecnologia e, principalmente, muita gente esquece que temos água. Vemos uma crise de abastecimento de água no mundo inteiro, a própria Índia depende basicamente de gelo para os rios fluírem e, comasmodificações climáticas, estão muito expostos também às oscilações de abastecimento. O Brasil sofre muito menos com isso e, por isso, tem prati- camente tudo certo para herdar uma porção dessa produção que estaria mo- vimentando o Ocidente para o Oriente. Outro ponto importante, e aí começo a entrar mais no detalhe da indústria e depois vou chegar na indústria de tin- tas, é o seguinte: uma vez que a gente consiga trazer primeiro confiabilidade, segurança jurídica, que os investimentos voltem para o Brasil, considerando que podemos agregar muito para os produ- tores, inclusive, não só de abastecerem esse déficit de 45%, como também de criarem mercados para exportação, a indústria química brasileira que hoje é a 6ª do mundo, não é um sonho da minha parte, nós temos todos os pré-requisitos para saltarmos de 6ª para a 4ª posição mundial, que é um salto gigantesco. Nós temos coisas acontecendo, como PL do gás, marco do saneamento bá- sico que foi definido agora, já temos empresas privadas que estão iniciando trabalho nesta área, estamos falando de investimentos de aproximadamente 1 trilhão de dólares nesta área de sanea- mento básico. Vejo oportunidades para o mercado de tintas, plásticos, polipro- pileno para tubulação, PVC, concreto, armação, geotêxteis, ou seja, são 500 mil empregos diretos. Imagina-se que sempre que a indústria, por exemplo, a indústria de saneamento, se desenvol- ve, toda a parte de serviços no entorno se desenvolve também, consegue-se alavancar empregos e a economia como um todo. Em particular, se na indústria de tintas tivermos todas as condições, podemos pensar que a nossa indústria automotiva, que sofreumuito comessa crise, como é um bem durável, relati- vamente caro e que não é prioritário, deve encolher esse ano cerca de 20% a 25%, mas se a indústria automotiva der um salto e retomar o crescimento que vinha sendo projetado, pois a nossa capacidade instalada hoje é gigante de produção de veículos, podemos voltar commaior competitividadenaprodução de alumínio, blocos demotor, chapame- tálica, porque, hoje, o Brasil, por incrível que pareça, exporta ferro e importa aço chinês. Não faz sentido isso, pois se a energia for competitiva, podemos expandir toda essa indústria aqui e, logicamente, expandir, por exemplo, a indústria automotiva. A indústria da construção civil está muito otimista com o que está aconte-

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