Revista Paint & Pintura - Edição 258

ENTREVISTA 8 | PAINT&PINTURA de capacidade instalada. Enquanto que, nos últimos anos, a indústria química vinha operando ao redor de 70%, ou seja, é uma retomada importante, mas ainda existe muita capacidade ociosa a ser utilizada no Brasil sem grandes investimentos. Talvez essa seja uma das grandes vantagens do Brasil na retoma- da para os próximos anos. Existecapacidadena indústriaquímicaem geralparaatenderasdemandasnacionais? E quais os níveis da demanda atual? Os níveis de demanda estão razoa- velmente fortes, mas os suprimentos ainda estão desestruturados, pois falta uma matéria-prima aqui outra ali, nem todo mundo consegue trabalhar 100% da capacidade. Capacidade existe, mas ainda temos que lutar por suprimentos adequados de uma ou outra matéria-prima, para que possamos voltar ao circulo normal. Agora, esse momento pontual de falta de alguns insumos, dependendo de onde estiver na cadeia produtiva, vai persistir ainda por um tempo, mas ca- pacidade existe. É só tempo para que a gente consiga se reequilibrar na oferta e na demanda. O mercado brasileiro ainda necessita de muitos produtos importados. Como o senhor tem visto isso? Na nossa visão, o que acontece no Brasil não é privilégio do nosso país. Tenho a impressão que aqui estamos retomando a economia de formamais acelerada do que a média do que tenho observado nos demais países, mas com maior ou menor impacto, o que eu comentei é mais ou menos padrão para todos, com exceção do câmbio, porque quemopera com moeda forte, a não ser o europeu que acabou ficando com seus produtos um pouco mais caros, por causa da desvalorização do dólar com relação ao Euro, de forma geral a situação é persistente no mundo todo. A importação de químicos tem crescido muito nos últimos 12 a 14 anos. Nós viemos de um nível ao redor de 30% de importação de químicos, quando comparamos omercado total de neces- sidade de compra de produtos químicos, 30% abastecido pelo produto importado e, agora, estamos chegando a quase 45% esse ano, isso porque o Brasil entrou na crise um pouco atrasado, sendo que os demais países entraram um pouco antes, havia produto ainda sendo transportado para abastecer a previsão otimista de 2020, mas ainda a importa- ção foi muito alta. E essa importação de produtos químicos, de forma geral, talvez não tenha exatamente a ver com o setor de tintas e vernizes, mas grande parte desse crescimento de importação de químicos está na área de fertilizantes. Com a estrutura que o Brasil tem de custos e as reformas estruturantes que ainda estão pendentes, conseguimos fazer a previdenciária, mas ainda falta trabalharmos nas reformas tributária, política e administrativa, para que te- nhamos não só essa figura que parece econômica e razoavelmente boa agora, mas que tenha persistência, para que possamos ser um “novo Brasil”, para atrairmos uma série de investimentos e expandirmos muitos negócios. Mas hoje, o “grande buraco” é a área agrícola, porque apesar do Brasil ter na sua balança comercial uma forte exportação de grãos (commodities), pois é raro o Brasil enviar ou exportar produtos industrializados, onde agre- garia valor e entraria empregos, ainda estamos numa fasemuito rudimentar no comércio exterior, exportando só com- modities. Mas por outro lado, nós não produzimos mais fertilizantes no Brasil, praticamente 90% dos fertilizantes, hoje, são importados, ou seja, o Brasil não tem uma independência do mercado internacional para garantir o que pode- mos chamar da “bio-segurança”, não só local, mas para exportação para o resto domundo, porque está dependendo de outras origens. A raiz desse problema, hoje, reside justamente na questão do gás natural. Se não tivermos o gás natu- ral competitivo (que é um projeto que já passou pela Câmara e agora está no Senado), será muito difícil retomarmos essas fábricas. Temos as fábricas no Brasil, poderíamos aumentar a capaci- dade, inclusive pertencia à Petrobras, que tem fábrica em Sergipe, outra em Camaçari, e essas duas fábricas foram arrendadas para um grupo nacional que intenciona retomar a produção de fertilizantes, mas depende do gás no- vamente. Temos também uma fábrica no Paraná, um projeto grande no Mato Grosso, que precisa que a gente defina essa questão do gás natural, para que possamos realmente nos tornar mais independentes domercado do exterior. Então, a indústria química, hoje, sofre esse enorme déficit, mas grande parte desse déficit é alavancado pelo setor agrícola de fertilizantes e agroquímicos de forma em geral. A crise trouxe aprendizados aos negócios que mudarão os processos da cadeia de suprimentos nas indústrias químicas? Na sua opinião, quais seriam essas mudan- ças no curto e médio prazos? Sob a minha ótica, conversando com as interfaces que tenho, tanto no Ministé-

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