Show do Pintor Profissional - Edição 194

SHOW DO PINTOR • ABRIL 2019 26 ARTIGO É comum na construção civil, o pintor diluir a tinta esmalte sintético à base de aguarrás com thinner. Principalmente quando o trabalho é re- alizado pelo sistema mecanizado. Na alegação dessa prática, escuta-se dizer que o thinner faz a tinta esmalte secar mais rápido ganhando-se mais tempo entre as demãos. Também ajuda na viscosidade facilitando na pulverização do pro- duto e não entope a pistola do equipamento de pintura. De fato, essas vantagens ocorrem mes- mo, mas diante de inúmeros problemas patoló- gicos que tenho vivenciado durante toda minha carreira de pintor e instrutor de pintura, não foi difícil de entender que essa combinação do thin- ner com tinta a óleo ou alquídica, quimicamente não funcionava. O primeiro passo em buscar da verdade desse processo, foi ler na embalagem do produto a indicação do fabricante sobre a di- luição e compreender que os esmaltes sintéticos que atendem no setor da construção civil, são diluídos com aguarrás. Uma observação interessante é que a maioria dos fabricantes de tinta esmalte sintéticos à base aguarrás, também fabricam uma linha de thinner comum. Por qual motivo na embalagem de seus esmaltes sintéticos base aguarrás eles também não indicam o thinner para diluição? O segundo passo foi notar que, quando diluímos os esmal- tes sintéticos com thinner, após a homogeneiza- ção percebemos que a tinta parece coalhar. Isso já é um sinal de que algo não está certo. Para entender sobre esse aspecto fui buscar in- formações sobre a composição básica do esmalte sintético base de aguarrás. E em sua formulação, o ligante, que é um componente básico respon- sável pela formação do filme da tinta, é formado por óleos orgânicos e inorgânicos ou alquídicos. Que coisa interessante! E então; aquilo que cha- mamos de esmalte sintético na verdade é tinta a óleo. Dentro dessa composição, a indús- tria química desenvolveu aguarrás (que é um composto do petróleo) para atuar na diluição desse composto. Já o thinner é um composto vegetal, portanto, é usado para diluir compostos base de nitrocelulose entre outros. Agora percebemos porque na diluição com thin- ner a tinta a óleo coalha. Nessa composição, o thinner e o óleo parece não combinarem. No DILUIÇÃO DO ESMALTE SINTÉTICO BASE AGUARRÁS COM THINNER Por Hélio Marcos Ferreira de Abreu terceiro passo, u l t rapa s s ado essa barreira de advertên- cia, o pintor que não lê as informações na embalagem e prefere agir de acordo com o amigo que fez e deu certo, ou ouviu dizer, ou aprendeu fazer dessa forma e nunca teve pro- blemas. Alguns dias de- pois do traba- lho concluído, sua pintura co- meça a apre- sentar proble- mas estéticos e funcionais. A pintura realizada na parte externa sofre a ação do tempo começa a apresentar al- teração na cor e pode surgir pontos esbranqui- çados. MOTIVO DA PATOLOGIA Em condições normais, após aplicação e alastra- mento da tinta na superfície, em alguns esmaltes sintéticos a aguarrás leva 8 horas para evaporar entre as demãos. E esse tempo o químico deter- minou como suficiente para a formação do filme da tinta e todos os aditivos funcionarem para aquilo que foram determinados. Depois, a cura segue perpetuamente por oxidação. Quando se dilui o esmalte sintético com thinner, após a apli- cação e o alastramento, o thinner, por ser volátil demais, evapora em quatro horas e a tinta seca (deixando uma falsa impressão de vantagem na secagem entre as demãos). Mas o que nossos olhos não enxergam, é que um filme que precisaria de oito horas para se formar, perdeu seu liquido em quatro horas e não fechou o filme por inteiro. Sendo assim, na incidência, os raios solares agridem a pigmentação e a tinta começa a desbotar. E esse é só o primeiro sintoma da degradação da tinta. Na pintura realizada em parte interna, o acabamento ace- tinado e brilho, apresentam fos- queamento em vários pontos e a tinta fica com aspecto enrugado. E COMO ISSO ACONTECE? O thinner “queima” a resina ligan- te da tinta, danificando os acaba- mentos, originando também um processo de craquelamento. COMO SURGIU ESSE MITO EM DILUIR ESMALTE SINTÉTICO BASE AGUARRÁS COM THINNER? Vai ser difícil encontrar resposta para essa per- gunta. Mas no campo da dedução podemos en- contrar algumas hipóteses interessantes. Se separarmos a indústria da tinta por setores teremos: automotivo, naval, aviação, moveleiro, construção civil, petrolífera entre outros. Vamos pegar a pintura automotiva como exemplo. Suas tintas são poliuretanas e tem diluente próprio, mas na maioria das vezes, os pintores optam pelo thinner como diluente. E nessa composi- ção, o thinner responde bem. Então deduzimos que em algum momento, há mais ou menos 30 anos, o thinner foi introduzido no setor da construção civil e popularizou-se por oferecer vantagens sobre a aguarrás na secagem entre as demãos da tinta, diminuindo o tempo de execução do trabalho. E essa falsa impressão de vantagens levou o pintor que não segue as normas técnicas indicadas pelos fabricantes na embalagem do produto, a fazer dessa prática um grande mito da pintura. Hélio Marcos Ferreira de Abreu, membro do MBPM (Movimento Brasil por um Pintor Melhor)

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