Revista Lojas de Tintas - Edição 145 - page 43

Lojas de Tintas
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O INÍCIODO TRATAMENTO
Frei Antônioéholandês, chegouaoBrasil háqua-
se30anosemmissão religiosa,destinadoa traba-
lhar emPerus, bairroperiféricode SãoPaulo. Em
pouco tempo trabalhando na região, percebeu
muitos casos de AIDS, os bispos do Brasil pedi-
ram para ter mais aproximação com as pessoas
portadorasdeHIVeAIDSe, assim, procuraroque
podia ser feito para ajudá-las. Outro problema
frequenteeramas criançasórfãs.
Assim, em 1993, nasceu o SítioAgar, em Polvilho
(SP), entidade bem pequena, tinha vaga para no
máximo 12 crianças. Antes de a instituição ser
fundada, os moradores da redondeza fizeram
abaixo-assinado recusandoa construção. “Depois
de muita conversa com a comunidade, mostra-
mos que não tinha risco com a nossa presença.
Várias pessoas que assinaram o abaixo-assinado
contraoSítio vieram trabalhar naentidade.”
SOBREVIVÊNCIADO SÍTIO
Ao todo, o espaço tem 12 mil metros quadrados divididos em
quatro casas. Além da sala de informática, oficina de costura e
bazar. A verba paramanter a instituição é estadual, municipal e
federal. “Se juntar as três, não cobrem50%dosgastos”, desabava
o Frei. Outra parte da verba do Sítio vem de uma instituição ho-
landesa. Porém, a manutenção e o salário dos funcionários são
de responsabilidadedo Sítio. Outras doações vêmdas empresas
alimentícias que contribuem commantimentos que sobram. “A
ajuda destas empresas émuito válida e importante, mas é uma
colaboraçãoesporádica, nãopodemos contar todososmeses. To-
dos os anos, em junho, julhoeagosto, odepósitofica vazio, jána
PáscoaenoNatal, fica lotado. Brasileironão temumNatal feliz se
nãopodedoar alguma coisa,mas esquecemqueno restodoano
as crianças também comem. Nãoestou cobrandonada, éapenas
uma constatação.”
HISTÓRIASQUE RONDAMO SÍTIO
Muitashistóriasterminamemfinais felizesnoSítio,osadolescentes
encontrambonsempregos, constituem famíliaeoutros sãoadota-
dos.Mas outras têmfins penosos. O casomais recente aconteceu
em julho, com a morte de uma criança de 5 anos. O garoto não
faleceu em decorrência da AIDS, mas de doenças que o acompa-
nharamdesdeonascimento. Nos últimosmeses de vida, eleficou
cego. Em várias idas e vindas ao hospital, a assistência social do
Emilio Ribas, hospital em São Paulo, referência em tratamento de
AIDS, avisouque amãetinhaperdidoa guarda temporária
domenino.Duranteumbom tempo, ogarotoviveunoSítio,
mas, devido aos problemas de saúde, ficou grandeparteda
vida internado. O Frei recorda com tristeza a reaçãodamãe
aosaberqueperderiaaguardadogaroto. “Duranteseteme-
ses internadonoEmilioRibas, amãeo visitou três vezes, na
última, foi informadaquecriançanão retornariaparacasa.A
mulher voltou aoquartodofilho, pegouos brinquedos que
estavamna cabeceirada camaedisse: ‘pode levar omeufi-
lho,masosbrinquedoseu levoparacasa’”.
OSQUE SAEMDO SÍTIO
“Acredito que as crianças são pouco procuradas para ado-
ção devido à falta de informação, pois, quando um casal
procura a adoção, quer ganhar um filho e não perder, o
medo damorte é grande, mas, com o tratamento adequa-
do, as crianças soropositivos têm a chance de viver como
todomundo.”O Frei lembra que, certa vez, chegouum ca-
sal à procura de adoção e disse não ver nenhumproblema
em adotar um portador de HIV, pois marido emulher são
diabéticos e sabem que se não cuidarem da doença, tam-
bémvamosmorrer emdecorrênciadela.
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